Urnas versus Educação


Marlene Marques Ávila

No último ponto de vista falei sobre as eleições e como o voto não reflete a maior consciência dos eleitores e eleitoras quanto aos seus direitos, dado o perfil dos candidatos eleitos para os diferentes cargos eletivos. Contudo, atualmente há um fenômeno em expansão que contribui decisivamente para os resultados, e para falar sobre ele quero retomar um ponto da nossa história, o qual, me é muito caro porque trata da educação.
No início dos anos 1960, entre as reformas de base necessárias ao desenvolvimento do Brasil, na visão de João Goulart, estava o acesso à educação. Nesta área seria implantado o Programa Nacional de Alfabetização a ser desenvolvido com o Método de Alfabetização Crítica proposto pelo grande mestre Paulo Freire, cuja experiência, já havia demonstrado ser possível ensinar adultos a ler e escrever em um período menor que dois meses! E mais, o processo de alfabetizar contemplava o desenvolvimento da criticidade, sim, adultos alfabetizados e com um novo olhar, uma nova compreensão de mundo.
Seria o grande ponto de virada para a população brasileira, a construção da cidadania por meio da educação. Na época, a alfabetização era um requisito para exercitar o direito ao voto, haveria então um grande aumento no número de eleitores com maior consciência crítica.
Do ponto de vista da elite brasileira, a politização da população representava uma grande ameaça ao status quo, e Goulart foi deposto pelo golpe civil-militar engendrado por militares, empresários e latifundiários, apoiados pelo governo norte-americano. A narrativa criada para justificar o golpe, foi a iminência da supressão do regime democrático e implantação do comunismo no Brasil.
Como temos presenciado, tal narrativa persiste até hoje no discurso da extrema direita, como parte da sua estratégia de conquistar corações e mentes, e tem logrado êxito, haja vista a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 e a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, quando os golpistas, milhares de pessoas acampadas no Setor Militar Urbano em Brasília, uma área, cuja ocupação é proibida por lei, pediam a ditadura militar, atentando contra os Três Poderes e o Estado democrático de direito.
A extrema direita avança no Brasil e no mundo. Aqui, a disseminação de fake news de forma eficiente pelo bolsonarismo, por meio das redes sociais, é um dos fatores que contribuem de forma decisiva na polarização da sociedade brasileira como nunca visto antes, é o que apontam pesquisas recentes sobre o tema. Esta divisão se reflete até mesmo nas relações entre amigos e entre familiares, como temos visto no cotidiano.
O governo autoritário e arbitrário do Bolsonaro, o uso da religião como arma política, as fake news, o negacionismo e suas consequências na pandemia de Covid-19, a intolerância radical à quem pensa diferente e às minorias, nada disso contribuiu para reduzir a polarização crescente nos últimos anos, e que se reflete nos resultados das eleições para os diferentes cargos eletivos Brasil afora. A pergunta que deixo para reflexão é se há algum paralelo entre isso e o nível e qualidade da educação da população?
Paulo Freire, banido do Brasil pela ditadura militar, teve seu Método de Alfabetização Crítica, ou a pedagogia crítica, aplicado em vários países, alguns dos quais, atualmente destacados pela Unesco como modelos de sistemas educacionais. Ele é reconhecido mundialmente, mas para a direita brasileira ele é um subversivo.
Nesta semana em que se comemora o dia do professor, dou vivas a Paulo Freire e a sua subversão!

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Marlene Marques Ávila

E-mail: marquesavilamarlene@gmail.com

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