Alguma luz no final?


Marlene Marques Ávila


João estava sério, absorto em seus pensamentos, o copo de chopp esquecido na mesa. Tomou um susto quando o amigo tocou em seu ombro.
– Opa, Zeca, é você, até que enfim.
– Você estava aonde homem, nem me viu chegar.
– Rapaz, estava aqui pensando onde vamos parar, tá tudo errado nesse mundo, pois você sabe que nem sou muito religioso, mas esses boatos de igrejas católicas fechando por ordem de chefe de tráfico ultrapassa todos os absurdos.
– Que história é essa? Tô sabendo não, até as igrejas é? Sei que à medida que a bandidagem avança nos espaços urbanos passam a controlar serviços como internet, transporte público, é uma estratégia de dominação, de controle, mas fechar igreja é novo, ouvi falar não.
– Pois é, o crime organizado está cada dia mais poderoso, imagina, ordenar a paralisação das atividades em uma igreja católica, veja bem, não que ela, a igreja, seja perfeita, esteja acima de tudo. Não, todos nós sabemos que há muito tem sido alvo de críticas, e reconhecido a necessidade de reparação em importantes questões, mas é uma instituição milenar, vem desde a época do Império Romano, está presente no mundo todo, diria até que é a maior instituição de nossa Era.
– Acho que é mesmo, veja, é tão importante que até contamos os dias pelo calendário cristão. É muito grave se isso realmente tiver acontecido.
– Pois é, a Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, tratou de desmentir os rumores, mas o fato é que pelo menos duas igrejas avisaram aos fiéis sobre o cancelamento das atividades, inclusive a missa. Isso demarca muito bem o avanço do crime organizado influindo em todas as camadas da sociedade.
– Sabe, a impressão que tenho é que como diz o rótulo “crime organizado” é muito organizado mesmo, lembrei agora daquele episódio em São Paulo, lembra João? A maior cidade do país simplesmente parou por três dias devido a onda de violência deflagrada por uma dessas facções.
– Já faz tempo, é... mas lembro sim, a cidade parou, e dizem por aí que a violência só deu trégua devido a um acordo feito entre a facção criminosa e o poder instituído. Os estudiosos deste assunto definem essas organizações como constituídas em torno de uma forte hierarquia e muito, mas muito poder econômico mesmo, além da gravidade que não é algo localizado, mas uma rede global de criminalidade.
– Como assim João?
– Quer dizer que têm conexões com organizações criminosas de vários países, esse é um problema mundial. Há uma grande lucratividade que faz a roda do crime girar, não é apenas o tráfico de drogas, envolve muita coisa mais. É esse grande poderio econômico que possibilita a infiltração do crime organizado nos poderes públicos, junto aos agentes políticos.
– É desalentador, então não tem jeito?
– Os estudiosos apontam a pouca eficácia dos meios formais de controle da criminalidade, afirmam que é necessária uma política global que vise retirar as vantagens do crime. É desalentador mesmo, mediante o cenário atual.
– Rapaz, nossa conversa hoje me deixou deprê, vou pra casa rezar, enquanto a gente pode né? Olha aí seu chopp já tem até piaba, fui!

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Marlene Marques Ávila

E-mail: marquesavilamarlene@gmail.com

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