Se é pra morrer...


Marlene Marques Ávila

Saí do consultório médico pensativa, há exatamente seis meses fiz meu check-up anual, sempre no começo de cada ano. A diferença é que esse ano, o iniciei há seis meses e até agora não o finalizei, porque alguns exames encontraram meu coração. Sim, eu tenho um coração. Mas até pouco tempo, os médicos não o tinham descoberto, embora eu sempre tenha sabido que ele estava lá, se revelando mais ou menos agitado conforme meus sentimentos e emoções, apesar da ciência garantir que a sede dos mesmos é o cérebro.
Não vou polemizar com a ciência, mas tenho certeza que é o meu coração que pulsa de felicidade quando vejo as pessoas amadas, quando as abraço, beijo, encontro amigos, compartilho alegrias, é ele também que sofre nos momentos de perdas, de tristezas.
Pois bem, foi esse órgão, cujas pulsações mudam conforme nosso esforço físico, atividade mental, nossos sentimentos e emoções e até nosso sono, descobri isso agora, que o check-up anual encontrou esse ano. Primeiro, foi o teste ergométrico que acionou um alerta, mas ecodopplercardiograma, ecocardiograma sob estresse e outros examezinhos mais, mostraram que não, não havia nada errado com meu órgão cardíaco, afinal eu sou uma pessoa de bom coração.
Mas a especialista em coração cismou, não ficou satisfeita. Pois não é que pediu uma tal polissonografia? Eu nem sabia que uma coisa tinha a ver com a outra, mas ela me explicou que tem sim, a ciência descobriu tal relação, nem faz muito tempo, sempre descobrindo coisas, a Dona Ciência. Por conta disso, passei uma noite mal dormida com o polissonógrafo, não nos demos bem desde o princípio. Pois bem, o resultado do tal exame revelou que eu posso morrer enquanto durmo, foi isso que a médica me disse enquanto me encaminhava para uma outra especialidade.
Saí dali pensando que seria uma boa morte. Passo um dia alegre, com minha família, amigos, conversando, rindo, ouvindo música, comendo boa comida, bebendo um bom vinho. Ao final do dia, estou bem, em paz, tomo um banho relaxante e durmo. Não me acordo pra essa vida, mas abro meus olhos para a próxima. Realmente não consigo imaginar uma melhor passagem. Com certeza morreria feliz!







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Marlene Marques Ávila

E-mail: marquesavilamarlene@gmail.com

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