Fake news


Marlene Marques Ávila

O bate-papo de fim de tarde está animado no boteco da Maria. Como sempre fico a observar até que uma conversa mais eloquente me prenda a atenção, então espicho os ouvidos, sei que isso não é cortês, aprendi que é mesmo falta de educação, mas algumas conversas são instigantes demais pra passarem despercebidas.
– Amigo Zeca, você manja dessas coisas de internet?
– Um pouquinho, eu e você somos da geração baby boomer, então temos mais dificuldades para aprender essas coisas, eu me esforço muito para não ficar por fora.
– Mas você tá é muito sabido, eu nem sabia que tinha essa geração e que eu sou dela, mas se o amigo tá dizendo.
– Pois é, deram esse nome pra quem nasceu logo depois da Segunda Guerra até aí pelos anos 60, ou seja, quando não havia internet, e computador era coisa de laboratório científico. Por isso a gente tem mais dificuldade, mas porque me perguntou?
João ficou pensativo, possivelmente lembrando da juventude, era tudo tão bom e pensar que os adultos diziam ser os jovens de então muito pra frente, se vissem os de hoje precisariam mudar muitos conceitos, e olha que nem tinha a tal da internet, também não fazia a menor falta.
– Então João, por que a pergunta?
– Ah, desculpa Zeca, viajei no tempo, mas é porque fico encafifado com essa história de fake news, a única coisa que entendo é que são mentiras, mas mesmo assim muita gente acredita e manda a mentira em frente para outras pessoas, estou certo?
– Aí é complicado, vamos vê se a gente entende pensando junto. Você usa redes sociais?
– Eu e todo mundo não é Zeca? É como todos se comunicam hoje em dia, até nós da geração baby não sei das quantas que você falou aí.
– Pois é isso, por ser esse grande meio de comunicação as redes sociais são fontes de informação e notícias verdadeiras e falsas, as quais são rapidamente compartilhadas por milhões de pessoas. E são usadas para formar opinião, valores, costumes, enfim, o que temos visto nestes últimos anos. Então você pode imaginar os danos que as notícias falsas, ou melhor, a desinformação podem causar. Uma questão importante é o uso que se tem feito de todo esse poder, por exemplo, o uso político.
– Pois era aí mesmo que eu queria chegar, veja sempre houve disputas políticas, esquerda direita, parente que votava no partido A, amigos no partido B, mas passada a eleição as coisas voltavam ao normal, a vida seguia sem maiores entreveros. Hoje a eleição passa e o antagonismo continua, pra usar o termo da moda, a polarização parece que se aprofunda, ninguém quer ouvir o outro nem debater ideias, mas desqualificar quem pensa diferente, mostrar que é dono da verdade E as redes sociais, em meu pouco entendimento, têm um papel fundamental nisso.
– É isso mesmo amigo, porque o uso político das redes sociais é feito de forma muito profissional, utilizando conhecimentos de diferentes áreas com a finalidade de fortalecer determinadas visões de mundo, de aprofundar preconceitos, beneficiar determinados grupos e pessoas. Para isso dispõe de ferramentas e mecanismos, os quais nem percebemos, que nos impelem a passar em frente uma desinformação, somos todos vulneráveis. Daí, ser essencial identificar as fontes, a origem das mensagens que repassamos. Conferir sites, verificar correspondência de datas, enfim não é fácil, mas precisamos nos apropriar dos recursos disponíveis para identificar as falsas informações abundantes nas redes sociais.
Muito interessante a conversa, e esclarecedora, pensei. Vou já pedir para me explicarem sobre algoritmo. Tarde demais, João e Zeca estavam de saída.





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Marlene Marques Ávila

E-mail: marquesavilamarlene@gmail.com

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