Marlene Marques Ávila
Marlene Ávila
No final de 2023 um desastre socioambiental em Maceió-Alagoas foi destaque na imprensa nacional. Contudo, a tragédia fora anunciada muito tempo antes.
Em 2018 a terra tremeu na capital alagoana, não foi nenhum fenômeno geológico, mas consequência da erosão do solo decorrente da exploração de uma mina de sal-gema por uma empresa multinacional. Desde então milhares de famílias se viram obrigadas a deixar suas casas, lares onde viveram, sonharam, teceram afetos, agora atingidos pela tragédia; danos materiais, físicos e emocionais.
Cinco anos depois a deterioração do solo obrigou a Defesa Civil a desocupar mais de quatorze mil imóveis em cinco bairros. Para onde foram as cerca de sessenta mil pessoas ali residentes? A empresa exploradora e a prefeitura fizeram um acordo de indenização. “Eu não participei da negociação”, disse o governador, e informou a construção de um parque estadual, um memorial das pessoas que viveram e construíram suas casas e sonhos na área depredada. Entre a população o sentimento de indignação e desesperança. O destino de todos está nas mãos de quem? Do prefeito? Do governador? Da mineradora?
– Não preciso de um memorial, mas de uma justa indenização por minha casa perdida – diz uma senhora revoltada, e acrescenta “é só o que eles podem fazer, para minha vida destruída não existe reparação”.
O senhor que viveu toda sua vida naquele bairro reitera: “Uma justa indenização, é isso, não será nada para a mineradora, ela lucra vários bilhões de dólares ao ano, mas onde estão seus dirigentes? O acordo é para ser feito conosco, nós que perdemos nossas casas, não foi o prefeito nem o governador, por que nossa voz não é ouvida? Soube que vão instalar uma CPI, para quê?”
Esta tragédia que atingiu a população de um pequeno estado do nordeste brasileiro, por muito tempo não foi divulgada pela grande mídia. Foi necessário milhares de pessoas perderem suas casas e terem suas vidas destruídas para a imprensa dar a devida atenção e o país tomar conhecimento do que ali ocorre, forçando os responsáveis, empresários e políticos a tomarem alguma medida. Mas permanece a descrença em boa parte dos atingidos, afinal esse é mais um episódio de uma velha história.
A sociedade de modo geral desconhece as medidas tomadas. Outros desastres estão a ocorrer mobilizando os holofotes. Mas afinal como estão vivendo hoje os desabrigados pelo desastre socioambiental em Maceió? Alguma justiça foi feita?
E-mail: marquesavilamarlene@gmail.com
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