Irracionalidade

Marlene Marques Ávila

Em 2023 o Programa Nacional de Imunizações (PNI) completou cinquenta anos. É um programa de referência mundial, por ter o Brasil a partir de sua criação, eliminado ou mantido sob controle as doenças preveníveis por meio de vacinas. Algumas das quais como o sarampo e a poliomielite, foram em um passado não tão remoto, responsáveis por grande parte dos óbitos infantis e sequelas limitantes entre as crianças acometidas. Daí a aprovação do programa ser praticamente uma unanimidade nacional.
Antes do PNI completar trinta anos de atuação, o Brasil recebeu da Organização Mundial de Saúde (OMS) os certificados de erradicação da varíola, da poliomielite e de bloqueio da transmissão do sarampo. Resultados obtidos pela aplicação do conhecimento científico, seriedade, competência e estratégias adequadas da Saúde Pública no planejamento, divulgação e execução do programa. Quem não lembra a popularidade do Zé Gotinha?
Contudo, desde 2015 o Ministério da Saúde registra redução da cobertura vacinal. Consequência disso foi o retorno dos casos de sarampo, doença considerada em processo de erradicação. Dados de 2023 mostraram a preocupante cobertura vacinal de apenas 47,3%, bem distantes dos 95% recomendados pela OMS.
Segundo dados de pesquisa recente, além da pandemia de Covid-19, fatores como a descrença nas instituições, a cisão social e a desinformação disseminada pelas redes sociais possivelmente influenciam a queda da vacinação.
Estamos no momento, em meio à discussão da necessidade de regulação das redes sociais. Creio que a necessidade de regular é ponto superado, o cerne da discussão é como fazê-lo. O impacto da desinformação na redução da cobertura vacinal precisa ser bem estudado; que as pessoas mudem suas ideologias e crenças por influência de dados sem comprovação publicados nas redes sociais é algo assustador, mas por em risco a saúde e a própria vida em decorrência disto, supera nossa compreensão de racionalidade.

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